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Resiliência em Tempos Incertos

  • Foto do escritor: Flavia Nico
    Flavia Nico
  • 6 de out.
  • 3 min de leitura

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Acredita-se que a paz mundial promove e é promovida pelo comércio internacional. A paz global das décadas finais do século XX avançou com o otimismo da globalização econômica. As primeiras décadas deste século XXI comprovou que a globalização veihttps://www.atribuna.com.br/opiniao/flavia-nico/resiliencia-em-tempos-incertos-1.421088o acompanhada de interdependências em escalas e áreas variadas. O que presenciamos hoje é que quando a paz se esvai e conflitos locais ressurgem, as interdependências viram incertezas a serem resolvidas.

Como ser resiliente em tempos incertos?

Segundo a OCDE, cerca de 90% dos bens comercializados se dão pelo mar. O fechamento dos portos da Ucrânia levou a ONU a alertar que atingimos níveis recordes de insegurança alimentar. Ataques a navios no Mar Vermelho liderados pelos Houthis do Iêmen em reação à campanha militar de Israel em Gaza forçou companhias a suspenderem o trânsito por uma importante rota marítima. A guerra silenciosa entre Estados Unidos e China envolve comércio, tecnologia, finanças e gera incertezas na balança de poder entre grandes potências.

 

Frente ao crescimento do comércio internacional por vias marítimas, os portos se posicionam como nós estratégicos de cadeias produtivas globais. Neste lugar, o gerenciamento de riscos dos portos deve lidar com o cenário de incertezas econômicas e geopolíticas como um novo normal. Muitas vezes, resta apenas o esforço reativo de buscar como se adaptar – ser resiliente.

 

Se como meio/elo das cadeias logísticas os portos apenas reagem sem muito controle sobre as eventualidades globais, há outra mudança disruptiva em curso qual exige dos portos postura proativa: a mudança climática.

 

O setor marítimo produz 3% das emissões globais de GEE. A Estratégia IMO 2023 acordou reduzir as emissões por viagem internacional em 40%; investir em tecnologias adicionais que melhorem a eficiência energética, adotar tecnologias, combustíveis e/ou fontes de energia com emissão zero e atingir emissões líquidas zero de GEE por volta de 2050. A navegação dá o tom a ser seguido pelos portos.

 

As metas ambiciosas traçadas pela IMO e acompanhadas pelo setor marítimo apontam os caminhos que os portos devem seguir. Afinal, navios dependem de portos. A gestão de riscos de portos consegue se antecipar e se preparar num esforço de se fazer parte da transformação ainda em curso.

 

Um possível papel para os portos é encorajar a navegação rumo a descarbonização. Ação simples é o estímulo à navegação limpa, como a adesão ao ESI – Environmental Ship Index, ou iniciativas que melhorem a eficiência das operações de navegação e das cadeias logísticas e permitam a economia de combustíveis e redução de emissões, como a padronização de informações entre portos e a previsão antecipada de tempo de espera na barra.

Colaboração é palavra-chave.

Há algo ainda mais impactante que envolve a mudança da função do porto: a descarbonização está forçando os portos e terminais a se anteciparem às mudanças em curso e se reinventarem como hubs de energia para um conjunto de combustíveis que ainda estão sendo estudados. O cenário é de muitas incertezas, entretanto, é esperado dos portos que adequem suas infraestruturas para os novos combustíveis e para os novos navios.

 

A mudança climática provoca novas necessidades e usos de espaços portuários, novas dinâmicas comerciais, inserção em novas cadeias produtivas, planejamento comercial diferenciado e, ainda, um novo tipo de licença para operar junto às comunidades locais. Colaboração é a base para a resiliência e a adaptação dos portos aos novos tempos de incertezas.

*Publicado originalmente em A Tribuna|Santos.SP (30/05/2024)

 
 
 

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©2025 por Flavia Nico.

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