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A Cidade e o Porto de Vitória

  • Foto do escritor: Flavia Nico
    Flavia Nico
  • 1 de out. de 2019
  • 2 min de leitura

Nasci e cresci no Centro de Vitória. O porto sempre foi um muro ou alguma coisa qualquer que acontecia atrás do muro. Assim como num filme de ficção científica, o muro é o intransponível, é onde a cidade acaba. Ainda hoje, o imaginário do morador do Centro comprova a ausência da conexão cidade e porto. Ironicamente, sua primeira lembrança é o Porto de Tubarão e não o porto urbano, parte da história da cidade e ainda fisicamente presente ali.


 O porto está de costas para a cidade e ausente nas sociabilidades do lugar. Trabalha com metas de eficiência, busca adequar-se ao sistema portuário internacional e age conforme diretrizes federais. A cidade é o território onde está sua infraestrutura. Ela entra na agenda do porto quando incomoda. A cidade é um contencioso a ser gerenciado em pautas específicas do porto, o interesse o nunca é aproximação porto e cidade.


Ainda que a história da cidade não possa ser contada sem a menção do porto e vice-versa, a condução do ser cidade portuária é inexistente. O porto é invisível para a gestão urbana, não é lembrado como parte de sua história, incorporado à sua identidade, inserido em alguma política pública específica para a cidade portuária ou aproveitado como vantagem competitiva.


Modelos de evolução entre cidades e portos têm apontado para um momento internacional de retomada de vínculos e sinergias que reconstroem o ser cidade portuária. Na Europa, cidades portuárias resgatam laços históricos entre portos urbanos e suas cidades. Um conjunto de boas práticas pautadas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU têm sido praticadas em diferentes lugares. No atual contexto globalizado, a competitividade entre as diferentes cidades conduz a ações de gestão urbana que privilegiam as especificidades do lugar. Ser cidade portuária pode gerar projetos diferenciados de cidades criativas ou de cidades inteligentes ou clusters portuários que indiretamente ampliam a eficiência do porto.]


Por aqui, seguimos avançando num processo de busca de crescimento econômico pautado por interesses individualistas e autocentrados. O porto se insere na pauta privatizante do governo brasileiro, preocupada com restrições fiscais. Nada se fala sobre o papel do porto no desenvolvimento econômico local. A cidade se cala. Se há uma chance de aproveitarmos o porto como diferenciação do lugar, a hora de agirmos como comunidade portuária é já.



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©2020 por Flavia Nico.

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